sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Skinny Love

Pego na Amy e com os olhos fechados deixo os meus dedos percorrerem vagarosamente as suas cordas. Que sensação boa. Puxo-a para mim com cuidado e preparo-me para tocar o primeiro acorde. A luz fraca de inverno espreita por entre as minhas cortinas. Olho à minha volta e reparo nas tonalidades do meu quarto. Sinto-me tão serena. O início é em Em. Automaticamente posiciono a mão no sitio correcto (após tanto tempo já nem penso na posição dos acordes) e aos poucos deixo a melodia percorrer todo o meu corpo. Come on skinny love just last the year. Pour a little salt we were never here. Sorrio. Cantar sabe tão bem. Parece que me transformo em alguém diferente, em alguém melhor. My, my, my, my, my, my, my, my digo num sussurro. Que música delicada. Sinto a minha mão esquerda a percorrer as cordas ferneticamente provocando um misto de sons agradáveis ao meu ouvido. Com a chegada do refrão adopto um tom mais agressivo. Sinto cada uma das palavras. É como se a letra tivesse sido escrita por mim, para mim. I told you to be patient. I told you to be fine. I told you to be balanced. I told you to be kind. As recordações atingem-me sem aviso. O poder que a música tem sobre mim é algo de extraordinário. A minha mente encontra-se longe neste momento. É melhor assim.

Who will love you? Who will fight? Who will fall far behind? Últimos acordes. Abrando o ritmo. Controlo a respiração. O último acorde é Cadd9. Um ultimo dedilhar. Levemente deixo as cordas vibrar até pararem. Com cuidado pouso-a ao meu lado, a minha companheira de longos anos. Olho para o meu quarto por uma ultima vez e respiro pausadamente. Sinto-me bem. Não há mais nada que me faça sentir assim. E espero que assim o seja durante muitos anos. 
 
 


Don't you worry

Complicar as coisas que não devem ser complicadas sempre foi o meu ponto forte. Estou farta de encher a minha cabeça de perguntas sem resposta e nadar constantemente num mar repleto de “e se”. Já chega. Porque não aproveitar enquanto posso em vez de perder tempo com tretas que não me deviam tirar o sono? Começo a chegar a conclusão (já não era sem tempo) que preciso de pensar um pouco mais em mim antes de pensar nos outros. Tenho de parar de tentar me adaptar a pessoas e a situações que não tem nada a ver comigo (e que nunca terão, por muito que queira). Ao longo destes últimos tempos impus a mim mesma não desistir daquilo que queria. Pensava que com bastante dedicação e paciência iria acabar por conseguir. Pois bem, eu DESISTO. Nunca pensei ser tão bom dizê-lo em voz alta para toda a gente poder ouvir. Desisto, desisto, desisto! É engraçado como por vezes escolhemos a opção que nos parece mais fiável e no fim acaba por acontecer exactamente aquilo que nunca se esperava que fosse acontecer.

Um conjunto de acontecimentos desta semana provaram-me que quando menos esperamos algo bom acaba por acontecer. Acho que me ajudaste a desistir. Era exactamente isso que precisava. Não podia ter pedido algo melhor do que isto. Por vezes é preciso arriscar. Deixarmos-nos levar pelo momento. Sim, é exactamente isso que deviamos fazer, deixarmos-nos levar. Sem medos, sem arrependimentos, sem “e se”. Esquecer, nem que seja por momentos, as consequências e simplesmente aproveitar. No fim, talvez algo melhor acabe por surgir. E eu acredito que vai.  


“You know, sometimes all you need is twenty seconds of insane courage. Just literally twenty seconds of just embarrasing bravery. And I promise you, something great will come of it”



Natal cancelado






Os anos passam a voar. Agora entendo. Estamos em Dezembro, é Natal. A chuva já se faz sentir. Já passou um ano? Por vezes sinto que foi ainda ontem que tudo aconteceu. Naquela manhã invernosa. Se fechar os olhos consigo visualizar tudo, consigo sentir tudo: Sem ar, sem força. Foi tudo tão rápido. Deixei que se apoderasse de mim. Ter medo é bom... certo? Acredito que, em parte, é o medo que nos mantém vivos. Eu tive medo. Tive tanto medo. Não soube lidar com a tua perda, sinceramente ... ainda não sei. Talvez os nossos medos sejam mesmo um reflexo de quem somos(faz sentido?). E eu, como fraca que sou, continuo presa a tudo que fui, a tudo que foste. 
 
As minhas memórias não são mais do que fotografias numa parede. Fragmentos de imagens aos quais me agarro com todas as minhas forças. Já não é tristeza, já não o é há muito. É algo diferente ... Poderia dizer que é apenas dor no seu mais rude estado. Mas é algo mais do que isso. O sofrimento é algo inexplicável, de verdade. Dói perder alguém que se ama tanto (sim, ama e não amava), dói não saber lidar com isso, dói não conseguir chorar, dói relembrar, dói saber que se foi embora e não vai voltar. Dói ...
 
Olho lá para fora e reparo que as pequenas gotas de água escorrem pelo vidro em forma de lágrimas. Seguem o seu caminho de uma forma tão determinada e pausada que era capaz de jurar que têm vida própria. Que fenómeno lindissimo que é a chuva, mas ao mesmo tempo tão triste. Agora entendo. Sinto-me como um dia de inverno. Sem sol. Como se as minhas lágrimas fossem como as gotas de água que escorrem continuamente lá fora. O sofrimento é algo inexplicável, de verdade.
 
A minha alma está de luto e o Natal foi cancelado este ano.
Familia é familia. E o meu sentimento por ti é algo que ultrapassa qualquer quadra festiva. Cada um lida com o sofrimento à sua maneira. Uns melhor, outros pior. Pois bem, esta é a minha.
Desejo-te um feliz natal avô. Onde quer que estejas. Amo-te
 

"And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse?"
- Coldplay