Pego na Amy e com os olhos fechados deixo os meus dedos
percorrerem vagarosamente as suas cordas. Que sensação boa. Puxo-a para mim com
cuidado e preparo-me para tocar o primeiro acorde. A luz fraca de inverno
espreita por entre as minhas cortinas. Olho à minha volta e reparo nas
tonalidades do meu quarto. Sinto-me tão serena. O início é em Em. Automaticamente
posiciono a mão no sitio correcto (após tanto tempo já nem penso na posição dos acordes) e aos poucos deixo a melodia percorrer todo o
meu corpo. Come on skinny love just last the year. Pour a little salt we were never
here. Sorrio. Cantar sabe tão bem. Parece que me transformo em alguém
diferente, em alguém melhor. My, my, my, my, my, my, my, my digo
num sussurro. Que música delicada. Sinto a minha mão esquerda a percorrer as
cordas ferneticamente provocando um misto de sons agradáveis ao meu ouvido. Com
a chegada do refrão adopto um tom mais agressivo. Sinto cada uma das palavras.
É como se a letra tivesse sido escrita por mim, para mim. I told you to be patient. I told you to be fine. I told you to be balanced. I told you to be kind. As recordações
atingem-me sem aviso. O poder que a música tem sobre mim é algo de
extraordinário. A minha mente encontra-se longe neste momento. É melhor assim.
Who will love you? Who will fight? Who will fall far behind? Últimos
acordes. Abrando o ritmo. Controlo a respiração. O último acorde é Cadd9. Um
ultimo dedilhar. Levemente deixo as cordas vibrar até pararem. Com cuidado pouso-a ao meu lado, a minha companheira de longos
anos. Olho para o meu quarto por uma ultima vez e respiro pausadamente. Sinto-me bem. Não há mais nada que me faça sentir assim. E espero que assim o seja durante muitos anos.